Nos últimos dados do Censo 2011 (INE, 2012) verifica-se que em Portugal há 2010064 pessoas com 65 e mais anos (19%). As projeções apontam para que o aumento da população mais velha se verifique sobretudo no grupo de 80 ou mais anos, que atingirá cerca de 15% (INE, 2009).
Relativamente às dificuldades funcionais, o último censo (INE, 2012) constata que 25% pessoas inquiridas refere dificuldades na mobilidade; 23% dificuldades visuais; 17% dificuldades de memória/concentração; 13% dificuldades de audição; 12% dificuldades no banho e vestir e 10% dificuldades de comunicação (compreender e fazer-se entender). Mais recentemente o relatório “Portugal - Saúde Mental em Números, 2014” (Programa Nacional para a Saúde Mental, 2014) sublinha o elevado impacto das doenças crónicas nos cidadãos portugueses, demonstrando claramente o estatuto (i) das doenças cérebro-cardiovasculares, (ii) das perturbações mentais e do comportamento e (iii) das doenças oncológicas, no total de anos de vida saudável perdidos por incapacidade. De acordo com o “1º relatório do Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental“ (Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, 2013 citado por Programa Nacional para a Saúde Mental, 2014), as três entidades assumem, respectivamente, 13,74%, 11,75% e 10,38% do total de anos de vida ajustados pela incapacidade (DALYS). Na perspectiva deste último relatório do Programa Nacional, o contributo das doenças mentais para o total de anos vividos com incapacidade (YLD) reforça o estatuto de doenças crónicas, e da sobrecarga associada. O que, segundo os autores, permite complementar e corroborar os dados relativos à prevalência das doenças mentais em Portugal, justificando, assim, “a necessidade de manter a Saúde Mental como prioridade absoluta do ponto de vista da melhoria contínua da prestação de cuidados e da prossecução da implementação do Plano Nacional de Saúde Mental 2007-2016”. Em pessoas idosas que envelhecem com doenças mentais, os fenómenos descritos podem ser entendidos como a “dupla sobrecarga de doença” (WHO, 1999). No caso específico da demência, a realidade tem já um profundo impacto na qualidade de vida e na economia das famílias e das nações, representando um dos maiores desafios/prioridades de saúde pública a enfrentar (WHO, 2012). Em Portugal regista-se uma prevalência estimada de 153000 pessoas com demência. No entanto, prevê-se que o numero de pessoas afectadas duplique em 2030 e mais do que triplique em 2050 (Alzheimer Portugal, 2013). Note-se que ao número estimado de pessoas com demência acresce um número muito maior de pessoas com défice cognitivo ligeiro. Esta realidade remete para a necessidade de melhorias dos cuidados psicogeriátricos, sobretudo comunitários, uma vez que os novos desafios em saúde mental e a emergente transferência de antigos doentes institucionalizados para a comunidade tem aumentado a preocupação acerca da independência, da autonomia e da qualidade de vida da população psicogeriátrica (actual e de futuro), bem como dos seus cuidadores formais ou informais. Todavia, no contexto geral de dados sobre a saúde de pessoas mais velhas, temos ainda pouca informação sobre as demências em estados precoces, os seus diferentes processos de evolução e, sobretudo, sobre as necessidades específicas dos doentes e dos seus cuidadores primários, nas diferentes condições de vida e acompanhamento. |